REFLEXÃO SOBRE A
DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM
Os alunos que não
acompanham as expectativas de aprendizagem de seu ano de escolarização são
motivo de muita preocupação por parte das escolas, dos professores e das
famílias. Este fato gera questionamentos sobre que encaminhamentos fazer, o que
é possível cobrar da família, o que se pode exigir do próprio aluno, quais as
causas dos problemas apresentados.
DESENVOLVIMENTO
A dificuldade de
aprendizagem pode não apresentar distúrbios neurobiológicos, isto quer dizer
que os problemas apresentados apenas relacionados a dificuldade de aprendizagem
têm caráter provisório e suas causas podem ser localizadas em diferentes
dimensões do processo de aprendizagem do indivíduo. Consideramos que estas
dimensões são: a) social; b) pedagógica; c) psico-afetiva; d) psico-cognitiva;
e) orgânica. A dimensão social perpassa todas as demais, que, por sua vez,
apresentam pontos de interseção (WEISS& CRUZ, 2011). Sendo assim, a
dificuldade de aprendizagem deve ser vista sempre na perspectiva da
pluricausalidade (WEISS, 2009), ainda que, em uma avaliação psicopedagógica
realizada pelo profissional competente, seja possível identificar algumas
causas principais dentre uma série de fatores que consistem em obstáculos ao
processo de aprendizagem.
1. O interesse do aluno
Segundo Fernández
(1991), o pensamento é como uma trama na qual a inteligência seria o fio
horizontal e o desejo o vertical. Ao mesmo tempo acontecem a significação
simbólica e a capacidade de organização simbólica (p. 67). Assim como
transtornos de atenção (que não são o nosso tema, nesta oficina) podem ser
confundidos com desinteresse, a recíproca também ocorre: o aluno pode estar
desatento por falta de interesse nas atividades escolares. Esta pode ser
motivada por causas externas ao ambiente escolar (problemas familiares, por
exemplo), como também por uma falta de sintonia entre a metodologia utilizada
na escola e a forma de a criança aprender. Este fator é muito comum em nossa
época, quando jogos eletrônicos condicionam as crianças a obter respostas
imediatas e à satisfação gerada pela competitividade. Por outro lado,
principalmente na rede privada de ensino, o sistema de avaliação em vigor tem
gerado a falsa premissa de que a educação básica tem por objetivo preparar o
aluno para a aprovação no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). Há uma
tendência de desconsiderar o prazer por aprender algo novo e tornar o ambiente
escolar, desde a alfabetização, em um lugar de realização de exercícios
descontextualizados e às vezes até mesmo exaustivos.
2. O processo de
desenvolvimento da escrita
Alguns “erros” dos
alunos consistem, na verdade, em características da evolução da escrita.
A linguagem escrita, em seus primeiros estágios de desenvolvimento, apoia-se na
linguagem oral. Na fase do fundamental, a linguagem oral funciona
como apoio, um elo intermediário para a aprendizagem da leitura e da
escrita. A principal função da escola no processo da escrita do aluno é de
desenvolver ao máximo a competência da leitura e interpretação. O processo de
criatividade que irá compor o desenvolvimento da escrita é composto pelo
contexto do aluno e todas as disciplinas que estuda.
3. O processo de
aprendizagem da matemática e disciplinas complexas
É possível, portanto, que uma dificuldade na matemática
signifique a falta de um conhecimento prévio. Há, também, casos de dificuldades
que envolvem outras áreas de conhecimento. É o que acontece, por exemplo,
quando o aluno não consegue resolver problemas matemáticos porque tem
dificuldade na interpretação de textos. Algumas estratégias pedagógicas para
favorecer o processo de aprendizagem de alunos com dificuldades são:
Desenvolver pequenos
projetos: despertar
a curiosidade dos alunos por algum tema, ou assunto. Solicitar que pesquisem e
criem algo sobre ele. Elaborar algum produto com as pesquisas, como painel,
exposição, dramatização, telejornais.
Tornar o material
didático mais acessível: algumas pequenas acomodações no material didático
podem tornar os textos mais atraentes e também mais fáceis de serem
compreendidos pelos alunos com dificuldades, como, por exemplo, usar fonte 14
sem, usar ilustrações para reforçar o sentido dos textos, ensinar o aluno a
localizar e sublinhar as palavras que indicam as ações mas importantes em
textos e enunciados.
Utilizar material
concreto: recursos
como material dourado, tabuleiros, atividades com cédulas, mapas e até mesmo os
eletrônicos tornam os conceitos mais concretos, facilitando o processo de
aprendizagem.
Diversificar: apresentar o mesmo
conteúdo de formas diferentes favorece que alunos com dificuldade possam
compreender melhor o conteúdo.
Jogos: “O saber se
constrói fazendo próprio o conhecimento do outro, e a operação de fazer próprio
o conhecimento do outro só se pode fazer jogando.” (FERNÁNDEZ, 1991, p. 165)
As gincanas escolares,
competições esportivas e de conteúdo contextualizam e motivam o
aluno. Através do jogo é possível, ao mesmo tempo despertar o interesse do
aluno e favorecer que construa conhecimentos. As atividades lúdicas podem
desenvolver a criatividade e favorecer que o aluno estabeleça vínculos
positivos com o ambiente e os conteúdos escolares. É possível desenvolver jogos
que envolvam conhecimentos de diversas áreas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para favorecer a
aprendizagem de alunos com dificuldade, é importante conhecê-lo, contextualizar
e diversificar. A aprendizagem é um processo singular. Cada aluno tem sua
própria forma de aprender, ainda que possa ser beneficiado pelo trabalho em
grupo. O ensino-aprendizagem, por sua vez, deve ser um processo dialógico. É
através do diálogo que o professor conhece o aluno, identifica como ele pensa
e, somente assim, pode refletir sobre as modificações necessárias no processo
para favorecer seu desenvolvimento. É preciso ajudar o aluno a estabelecer
relações entre o conhecimento novo e o que já domina. É importante, também,
valorizar o que ele sabe fazer bem, para que desenvolva o sentimento de
autovalorização e sinta-se encorajado a enfrentar os desafios.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
FERNÁNDEZ, A. A
inteligência aprisionada. Porto Alegre: Artmed, 1991.
PICCOLI, L. e CAMINI, P.
Práticas pedagógicas em alfabetização: espaço, tempo e
corporeidade. Erechim: Edelbra, 2012.
WEISS, A. M. L. &
CRUZ, M. L. R. da. Compreendendo os alunos com dificuldades e distúrbios de
aprendizagem. Educação inclusiva: cultura e cotidiano escolar. 2.
ed. RJ: 7Letras, 2011.
WEISS, M. L. L.
Combatendo o fracasso escolar. Obstáculos à aprendizagem e aodesenvolvimento da
leitura. In WEISS, M. L. L. & WEISS, A. Vencendo as dificuldades
deaprendizagem escolar. RJ: Wak, 2009.
Material do seminário 2016 da
UERJ
Nenhum comentário:
Postar um comentário